CURSINHO PIMENTAS
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Episódio completo
Episódio completo (com acessibilidade)
Sobre o projeto Cursinho Pimentas
O Cursinho fica no Conjunto Marcos Freire, no bairro dos Pimentas, região pobre de Guarulhos. No início dos anos 2000, Rômulo, professor de escola pública, identificou o problema:
Adolescentes achavam que universidade pública não era pra eles. Ensino médio ruim, falta de referências – praticamente não havia parentes, amigos e amigas formados em boas universidades. Faculdade, só paga, e olhe lá.
Solução: um cursinho comunitário gerido pelos próprios alunos, autossustentável.
Funciona desde 2002 e tem dado muito certo. É um projeto sólido e inspirador. A logomarca é muito parecida com o símbolo de reciclagem:
Faz todo sentido, porque o Cursinho parece ser 100% autossustentável. Mas, mais importante que isso, quem dá as aulas são principalmente pessoas que passaram por lá e se formaram em faculdades públicas. Isso é uma das coisas mais interessantes:
Vários ex-alunos dedicam seu tempo livre ao Cursinho, indo lá para ajudar nas tarefas básicas, na organização e, talvez principalmente, servirem como referências para os estudantes.
Outra coisa interessante é que o foco não é apenas ajudar a turma a passar no vestibular; tão importante quanto isso, é formar pessoas conscientes. Os alunos têm aulas de cidadania e ecologia. Toda semana assistem a um filme (alternando ficção e documentário) e debatem com uma pessoa convidada; uma das últimas sessões foi com um filme chamado “Sem Pena”, e a mediação ficou por conta de um advogado criminalista, ex-aluno do cursinho. Também acontecem outras rodas de conversa sobre temas variados. Os alunos me contaram que recentemente foram convidados um pastor evangélico e uma mãe de santo para uma conversa – e o pastor, segundo pessoas que ouvi, teve que responder perguntas duras.
Tudo é comunitário. A limpeza, a alimentação, a organização do espaço – tudo é por conta dos alunos, organizados em grupos que se revezam. No dia da visita o almoço foi preparado pela mãe de uma aluna.
Alunos que passam em faculdades em outros estados recebem uma ajuda de custo para os primeiros dias da viagem, e esse dinheiro vem de reciclagem: alunos e pessoas da comunidade trazem tudo quanto é tipo de material reciclável para o cursinho (inclusive óleo de cozinha); os alunos separam, depois vendem para cooperativas de reciclagem.
Na entrada da sala de aula principal tem um quadro em que todas as finanças ficam expostas em planilhas: o que foi arrecadado, quais foram os gastos etc. O cursinho não é gratuito: tem uma contribuição de R$25 por mês.
Alguns pontos:
● “Sua permanência no Cursinho está condicionada a uma reunião com mães/pais ou responsáveis para que conheçam o trabalho desenvolvido.”
● “Nosso objetivo é ajudar a(o) vestibulanda(o) a ingressar numa universidade pública, com uma formação cidadã que lhe torne crítica(o) aos problemas sociais e contrária(o) à reprodução do sistema opressor, assim é fundamental a participação de todas(os) nas aulas de cidadania, mesmo sendo fora do espaço do Cursinho.”
● “A limpeza do prédio e a organização da reciclagem são de nossa responsabilidade.”
● “Em todos os meses serão realizadas reuniões (Reunião Geral) entre voluntárias(os) e estudantes do Cursinho para uma avaliação geral do mesmo em todos os aspectos.”
● “O Cursinho é autossustentável, somos nós quem custeamos as possíveis despesas.”
Ao final dá pra resumir todo esse processo de formação em três palavras: consciência, autonomia e disciplina.
Alguns dados adicionais:
Fonte: Rômulo
● 2016 – 110 alunos / 87 aprovados
● 2017 – 105 alunos / 83 aprovados
● 2018 – 112 alunos / 90 aprovados
● 2019 – 97 alunos / 77 aprovados
● 2020 – 70 alunos / 35 aprovados
● 2021 – 68 alunos / 30 aprovados
Obs.: 2020 e 2021 – anos de pandemia, as aulas foram online – a produtividade foi bem menor.