A literatura e o incentivo à leitura unem uma biblioteca comunitária, um centro de acolhimento para grávidas e mães pós-parto, uma cozinha solidária e uma horta agroecológica no distrito mais rural de São Paulo, a 40 km do centro, em torno do projeto denominado Mães Mobilizadoras.

Em 2008, uma pesquisa apontou Parelheiros como o distrito paulistano com o maior índice de mães adolescentes, com números alarmantes de violência doméstica e de falta de oportunidades, principalmente, para jovens e mulheres.

O fato chamou a atenção de Bel Santos Mayer, uma pedagoga que transformou sua vida ao ler uma poesia e passou a acreditar que um livro pode mudar vidas. “Na minha condição de mulher negra que veio de uma região periférica, eu passo o tempo todo pensando em transformar.”

A frase já faz parte da narrativa íntima e profissional da coordenadora do IBEAC (Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário), uma ONG com uma trajetória de quatro décadas, que promove a literatura como direito humano. Há 14 anos, Bel incentivou a equipe a abraçar Parelheiros com iniciativas que impulsionam, empoderam e beneficiam crianças, jovens e mulheres.

A primeira iniciativa no bairro foi a criação da Biblioteca Comunitária na casa do coveiro no cemitério alemão em Parelheiros, o mais antigo de São Paulo. Durante 12 anos, o espaço funcionou no local, formou jovens educadores, estimulou a comunidade com rodas de leitura e conversas, incentivou pessoas a voltarem a estudar e promoveu encontros com escritores.

Bruno, um dos jovens que entrou como monitor da Biblioteca Caminhos da Leitura diz que a forma descentralizada de Bel trabalhar com os jovens, repassando responsabilidades e compromissos, faz com que ganhem autonomia e, consequentemente, a autoestima melhora.

São milhares de pessoas beneficiadas, de forma direta e indireta, pelos projetos que estimulam a leitura e a escrita em Parelheiros. Bruno, Val, Vânia, Sidineia são algumas dessas pessoas. A maioria iniciou como participante de alguma das iniciativas e hoje faz parte da gestão de projetos.

Mães Mobilizadoras (Centro Infância)

O projeto Mães Mobilizadoras é formado por um grupo de mulheres que se apoiam em um período de diversos desafios: a gestação e maternidade. O desafio se torna ainda maior por se tratar de mulheres que moram em Parelheiros, um bairro distante a cerca de 40 km do centro de São Paulo. Com todo o tipo de carências, as mulheres e mães são apoiadas por este grupo.

Rafaela está na faculdade de Pedagogia por acreditar que a educação é o que pode transformar a vida. “Isso vi no projeto. Só por meio dela conseguimos fazer uma sociedade diferente e romper com padrões.” Rafaela é uma Mãe Mobilizadora desde 2015 e atua no bairro Nova América. “Este ano”, ela iria atuar com as mães de filhos com deficiência, mas esse plano precisou ser adiado por conta do avanço da pandemia.

Além do Mães Mobilizadoras, outros projetos atendem o bairro de Parelheiros, caso do Casa do Meio – Um lugar de acolhimento para mulheres grávidas, inaugurada em 2019 e uma iniciativa do IBEAC em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), alinhado com o Centro de Excelência em Primeira Infância.

O espaço atende gestantes e puérperas que precisam de acolhimento, descanso e fica próximo a hospital. Muitas das mulheres atendidas vivem distante do local, a cerca de duas horas. A casa possui dois quartos com camas, banheiros e cozinha.

Entre os demais projeto que atende a região estão Cozinha e Horta Comunitária de produtos agroecológicos, para apoio às mães no período pós-parto, com doação de marmitas para ajudar neste momento, Sementeiras de Direitos, para acolhimento de jovens/meninas que engravidam e não conseguem trabalho e consiste na coleta de sementes e frutas de árvores nativas no Brasil para produção de doces, Casinhas das Histórias, espaço no centro do bairro com biblioteca e ações de leitura nas ruas adotadas, Acolhendo em Parelheiros, com horta e fazenda agroecológica, para compartilhamento de práticas para uma alimentação saudável, e promoção de rodas de leitura.