QUILOMBO KAONGE

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Episódio completo (com acessibilidade)

Sobre o projeto Quilombo Kaonge

Links:

https://www.metro1.com.br/noticias/turismo/72319,quilombo-kaonge-e-o-paraiso-das-ostras-no-reconcavo-baiano

https://g1.globo.com/ba/bahia/2-de-julho/noticia/2023/07/01/rotas-por-uma-outra-liberdade-em-cachoeira-na-ba-quilombolas-exaltam-passado-de-lutas-em-regiao-que-foi-berco-do-2-de-julho.ghtml

Localização: Cachoeira – Bahia (Vale do Iguape – Recôncavo Baiano)

O Quilombo Kaonge reúne histórias de vida a partir de uma associação que conta com 17 comunidades remanescentes de quilombolas na Baía do Iguape, no Recôncavo Baiano (BA).

As experiências mostram que é possível a existência de uma comunidade organizada, na qual caminham lado a lado ancestralidade, modernidade, geração de renda e solidariedade com a preservação e orgulho de suas raízes produzindo oportunidades de crescimento e desenvolvimento para toda a região.

A partir de discussões internas, os moradores implementaram a “Rota da Liberdade”, um roteiro turístico construído de modo participativo pela comunidade. Os percursos valorizam tudo o que é produzido pelos quilombolas, como azeite de dendê, farinha de mandioca, ostras, artesanato e samba de coco, um tipo de música com dança de arrastar o pé e o corpo pelo solo batido.

A organização do quilombo é baseada no trabalho em conjunto para a realização das atividades, com foco na geração de renda e oportunidades às famílias.

A forma de produção foi aprendida com seus ancestrais e mantida até os dias atuais, passando de geração em geração. Para os quilombolas do Kaonge, preservar os saberes e fazeres de seus antepassados significa garantir sustentabilidade sem prejuízo ao meio ambiente, do qual são parte integrante.

O cotidiano da comunidade é recheado de trabalho duro, solidariedade e muita tradição quilombola. Estas são as principais características do Quilombo Kaonge. Essa experiência mostra que, a partir da organização e participação, é possível preservar as tradições e criar perspectivas de crescimento às novas gerações, que sonham com uma vida mais justa e sustentável.

As 17 comunidades reconhecidas como remanescente de Quilombo são:

Caibongo – Calolé – Embiara – Tombo – Kalembá – Campina – Dendê – Imbiara de Cima – Engenho da Ponte – Engenho da Praia – Engenho da Vitória – Engenho Novo – Kaonge – Opalma – Palmeira – Santiago do Iguape – São Francisco do Paraguaçu

Quilombo Kaonge: subsistência pelo turismo cultural e gastronômico

Números atuais: 13 família e 85 pessoas. Catar o dendê no quintal e ver ele se transformar em azeite, ingrediente indispensável da moqueca que vai ser servida à mesa. Enquanto isso, um bate-papo cheio de sabedoria sobre as plantas medicinais que Vardé, de 96 anos, usa para produzir o xarope que, segundo a xaropeira quilombola, cura qualquer doença respiratória. Cair no samba, por que não? Isso também faz parte do roteiro de quem estiver disposto a passar o dia vivenciando a experiência de uma comunidade quilombola que resiste.

O passeio turístico é uma iniciativa do Núcleo de Turismo Étnico Rota da Liberdade, que faz parte do Núcleo de Turismo Étnico Comunitário da Zona Turística Baía do Iguape. Formado por representantes, lideranças e moradores dos quilombos Kaonge, Dendê, Kalemba, Engenho da Ponte e Santiago do Iguape, a proposta é usar a atividade turística como caminho para fomentar a economia solidária na região, a partir da cultura e tradição dos quilombos.

“Residimos no entorno da Baía do Iguape, região histórica do recôncavo baiano. O empreendimento é um negócio coletivo que conta com a participação e gestão de jovens das próprias comunidades, que buscam oferecer serviços e produtos de qualidade para o visitante baseado na produção associada ao turismo”, pontua a coordenadora de comunicação da Rota da Liberdade, Andreza Viana.

A cerca de um trajeto 1h30 de Salvador, a Rota da Liberdade foi construída de forma participativa pela comunidade. Os roteiros valorizam tudo que é produzido pelos quilombolas como azeite de dendê, farinha de mandioca, ostras e o artesanato. Para a liderança Ananias Nery, 62 anos, fazer turismo comunitário é ter acesso a uma “universidade do conhecimento popular”.

Mais conhecida como Joca, a guia local Jorlane Cabral, 37 anos, destaca que a experiência no quilombo vai além de só chegar na comunidade e tirar fotos. O turismo comunitário pode se expandir e garantir autonomia socioeconômica a outras comunidades. (fonte: Correio 24 horas, 30.04.2022)

A Rota da Liberdade é organizada nos moldes da autogestão e gerenciada pelo Núcleo de Turismo Étnico de Base Comunitária Rota da Liberdade.

Criado em 2005, abrange quatro comunidades do Conselho Quilombola, além dos quilombos São Francisco do Paraguaçu e Santiago do Iguape.

O roteiro apresenta uma composição de várias atividades e trilhas de paisagens que visibilizam o patrimônio cultural do tempo da escravidão (vestígios dos velhos engenhos, capelas, igrejas e o Convento de Santo Antônio do Paraguassu, dentre outros sítios), mas também da história recente das comunidades, com as casas de farinha, os locais de devoção (como o “Pé do Velho”, na comunidade do Engenho da Ponte), o Terreiro de umbanda “21 Aldeias de Mar e Terra” (no Kaonge).

Além das referências culturais dos lugares, o roteiro de visita também inclui a apresentação das atividades dos núcleos de produção comunitária do Conselho Quilombola.

O ponto de partida para a criação do circuito veio em 2001, com o Projeto “Cultura Viva”, do governo federal, em que foram selecionados 20 jovens de diferentes comunidades, recebendo uma bolsa de 150 reais para elaborar o levantamento dos vestígios dos antigos engenhos e histórias das comunidades contadas pelos mais velhos moradores.

Assim, em 2005, surgiu a ideia de criar o núcleo de turismo, agregando-se aos núcleos de produção ligados ao Conselho Quilombola (BORBA, 2018). A criação da Rota da Liberdade viabiliza novas formas de geração de renda para a comunidade. Vivendo da roça, pesca, farinha de mandioca, dendê, mel e mariscagem, o turismo surge como uma possibilidade de renda extra, além do fortalecimento cultural.

A Rota da Liberdade apresenta três roteiros de visitação: no “Roteiro Histórico” pode-se fazer visitas ao Convento de Santo Antônio (na comunidade de São Francisco do Paraguassu), a Igreja Matriz de Santiago do Iguape (na comunidade de mesmo nome), conhecer a “camboa de pau” (tecnologia para criação de ostras) e demais estruturas que compõem o cultivo de ostra (comunidade do Dendê) e a Capela de Nossa Senhora da Conceição (comunidade do Engenho da Ponte), sendo os trajetos realizados de barco ou carro.

No roteiro “Trilha Griô – Caravana dos Orixás”, os turistas refazem ao longo de 4 quilômetros de caminhada o ritual da Esmola Cantada dos Festejos de São Roque, festa tradicional organizada pela comunidade do Engenho da Ponte e que foi “retomada” há alguns anos (BASSI e TAVARES, 2017).

No roteiro “Dia a Dia”, os turistas conhecem a rotina de trabalho da comunidade do Kaonge (BORBA, 2018), de onde se inicia o passeio. A abertura é feita por Dona Juvani, mestre Griô do grupo, que conta a história da região e sua história de vida. Ela nasceu na comunidade e morou em Salvador na adolescência e, ao retornar ao Kaonge, criou a primeira escola do quilombo, sendo a primeira professora a lecionar na região. Dona Juvani também é líder espiritual da comunidade e do Terreiro de Umbanda 21 Aldeias de Mar e Terra, ali situado. Após a apresentação de Dona Juvani, visita-se também a casa de farinha, onde são demonstradas as técnicas de processamento da mandioca.

A seguir, observa-se o processo de feitura do azeite de dendê. A última apresentação da manhã é feita por Dona Vardé, ou Valdelice Mota de 91 anos, erveira e rezadeira da comunidade. Cunhada de Dona Juvani, ela nasceu numa comunidade próxima e vive no quilombo do Kaonge desde a adolescência. Passou por dificuldades na infância, quando trabalhava em Salvador, tendo chegado ao Kaonge fugida da exploração da cidade – desde então cuida da comunidade com as ervas e rezas que protegem o grupo.

Dona Vardé reza os interessados, mas anuncia certos limites sobre quem precisa ou não da reza. Sua participação no roteiro turístico não se limita à atuação enquanto erveira e/ou rezadeira, mas também apresenta a história do “xarope da Vardé”, recebida em sonho, de sua entidade espiritual (uma índia, como ela denomina) ligada ao Terreiro 21 Aldeias de Mar e Terra, xarope que pode ser adquirido pelo visitante.

A receita foi “enviada”, conforme afirma Dona Vardé, especificamente para o Roteiro da Rota da Liberdade. Dona Vardé não revela detalhes da receita, mas afirma que faz o xarope com as ervas do seu próprio quintal. O processo de feitura é cuidadoso, sendo permitido apenas (recentemente) o auxílio de uma das filhas de Dona Juvani, a quem caberá a sucessão da guarda da receita.

O xarope é largamente consumido nas várias comunidades quilombolas, sendo também vendido em diversas ocasiões de comercialização dos produtos das comunidades (mel, artesanato, ostras, farinha de mandioca, doces etc.): além da Rota da Liberdade, em feiras, eventos e, sobretudo, na Festa da Ostra, grande evento anual que ocorre no mês de outubro no Kaonge (BASSI e TAVARES, 2017).

No xarope conectam-se a dádiva da entidade à encomenda de um produto de sucesso, cujos vínculos entre antepassados e os moradores atuais do Kaonge fundamentam a legitimidade da tradição quilombola.

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