TENÓRIO

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Episódio completo (com acessibilidade)

Sobre o projeto Tenório

 

Localização:

 

Localização : Neópolis – SE

A representante do Velho Chico na Feira é Lenilce Santos, jovem camponesa da comunidade de Tenório, em Neópolis. Segundo Lenilce as famílias rizicultoras da região produzem cerca de 200 toneladas do grão por ano, e esta quantidade poderia dobrar se não fossem os limites da irrigação no território. “Hoje nossa luta é para que a empresa que cuida da irrigação respeite os rizicultores e permita que as nossas famílias produzam arroz o ano todo”, denuncia Lenilce.
Lenilce também revela que há um processo de organização política na comunidade onde vive para ressignificar o território como quilombola. Conta que ainda é um processo que precisa de muito debate e construção coletiva para que a comunidade se entenda como remanescente de quilombolas. Além desse processo de aquilombamento, a comunidade também luta por melhor infraestrutura. A comunidade fica distante da cidade e por isso, quando criança, tinha muita dificuldade de acessar a educação. “Muitas vezes os professores não chegavam na escola, porque era de difícil acesso. As estradas que dava acesso a comunidade muitas vezes se tornavam intransitáveis devido às chuvas, a infraestrutura era precária”, conta.

Ela fala que foi depois de um projeto que participou como educadora física, título que conquistou depois de se graduar em Educação Física na Universidade Federal de Sergipe, campus de São Cristóvão é que passou a ter maior noção da realidade do povo. “Foi nesse projeto que comecei a entender a comunidade Tenório, porque todo aquele sofrimento que a gente passou não era normal, nesse projeto eu conheci outras pessoas que viviam na cidade e que estavam em maior vulnerabilidade social”, conta. Ela também se formou em Técnico Agrícola em Agroindústria no Instituto Federal de Sergipe, também em um campus em São Cristóvão.

Foi nesta experiência como educadora física que ela conheceu o MPA. “Aí eu larguei a educação física e comecei a me dedicar mais sobre a educação do campo, percebi que era necessário a gente ter uma educação no campo contextualizada com a realidade da nossa vida, me tornei educadora popular desde então”. Hoje Lenilce atua como promotora de agroecologia com rizicultores que produzem o Arroz Velho Chico. “O arroz agroecológico Velho Chico, a nossa marca de arroz, permitiu que os rizicultores comessem seu próprio arroz, isso não era comum antes”, conclui. Fonte: MPA

Dados apresentados por Lenilce:


• Comunidade Tenório fica a 20 minutos de Pacatuba, e cerca de 3 horas de Aracaju; distância de 20 km do Rio São Francisco’
• Comunidade quilombola que não tem certificação nem do Governo Federal, nem da Fundação Palmares;
• a principal produção da comunidade é a vassoura de ouricuri (vendida nas feiras de Japoatã, que ocorrem às segundas-feiras), além de amendoim, maracujá e mamão, mel;
• o que é produzido nos “quartos de terra” (quintais), remete tanto ao consumo próprio quanto a comercialização; “todos os quintais são produtivos”
• também plantam batata doce, manjericão, cidreira, pimenta, feijão, acerola, manga, quiabo, goiaba, coentro…
• são cerca de 400 famílias na comunidade, totalizando menos de 800 pessoas no povoado ao total;
• Fazem mutirões para plantio, colheita, uso da casa de farinha;
• Casa de farinha: Natividade, uma das lideranças, divide parte da farinha para quem esteve envolvido na produção, e o restante segue para venda nas feiras
• Também realizam escambos entre eles próprios com o cedente que não foi vendido, além de escambo nas feiras
• Feitura da vassoura acontece em 3 etapas: coleta da palha na mata (1 dia), desfiar da palha, secagem no sol (o mais demorado) e montagem (consiste na união das palhas e no molde)
• algumas famílias sobrevivem exclusivamente da produção e venda das vassouras;
• 90% das produções são gerenciadas pelas mulheres;
• mais de 50% das mulheres se dedicam às vassouras (muitas acabaram indo para o corte de cana, um dos problemas do avanço do agronegócio, o que diminui o tempo dedicado à vassouras em época de colheita)
• No artesanato fazem crochê: passadeira, tiara, laços…
• sua tia, Maria dos Santos (Miruxa), 76 anos, é uma guardiã da cultura do samba de coco, além dos saberes das garrafadas, benzimentos e chás
• antigamente, ao fim das produções das casas de taipas, era comum juntar todos os moradores para dança de samba de coco
• grupo da juventude existe, mas afirma que a competição com as as festas de boiadeiro, vaquejada etc é desleal; Alisson (apelido de Rogério) é uma sumidade na capoeira, embora não reconheça
• Neilde é outra personagem icônica: trabalha com as vassouras, e retrata os causos da região como ninguém, inclusive histórias com lobisomem;
• Nice é uma mulher de terreiro; “senhora das matas”, parteira, entende dos saberes da natureza e cura. Tanto que no auge da COVID-19 nenhum morador se contaminou; uma guardiã de muitas plantas que inclusive já se acabaram;
• também é da tradição da comunidade a feitura do arroz doce e mugunzá;
• na comunidade tem eletricidade, mas para a irrigação, em época de estiagem, os moradores vão buscar água no “chafariz” (poço artesiano) que fica no centro da comunidade

Mesmo participando das feiras, eles ainda têm muita dificuldade de comercializar seus produtos; querem doar o que é produzido. Ou seja, ainda estão aprendendo a precificar e valorizar seu próprio trabalho.

 

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